quinta-feira, 15 de outubro de 2009

“Não somos músicos, mas artistas de colagem”

“Não somos músicos, mas artistas de colagem”. A frase dita por um DJ em uma das cenas do documentário Modulations (1998) da diretora Iara Lee ilustra bem a relação entre música e arte apresentada pelas experimentações sonoras que muitas vezes não se encaixam na concepção tradicional de canção. O filme traz ainda outras reflexões importantes sobre o som na sociedade ocidental e pontos de vista diversos sobre o que vem a ser música eletrônica.


O documentário traça uma linha histórica na qual a obra experimental de nomes como Karlheinz Stockhausen e John Cage aparece como ancestral da música eletrônica e de diferentes expressões intimamente ligadas a uma cultura do DJ, no qual os sintetizadores e outros aparatos tecnológicos se tornam instrumentos e permitem a interferência através de técnicas como colagem, mixagem e scratch.


Apesar de referências similares, as apropriações de dispositivos tecnológicos variam de acordo com os grupos sócio-culturais e a necessidade dos mesmos em interferir na produção de sonoridades. É possível observar, por exemplo, a fundamental importância dos aparelhos sonoros no surgimento do Hip Hop nos Estados Unidos, da música eletrônica alemã e dos diversos sub-gêneros que pipocaram em cidades como Detroit e Chicago e as formas diversas como os jovens desses grupos se relacionam com a tecnologia, atualizam discursos e criam novas maneiras de interagir no espaço urbano. Os discursos, aliás, variam tanto dentro de uma mesma cena quanto na relação com as demais.


O título do filme parece apontar para uma tentativa de “modular”, ou seja, aproximar as discussões em torno de temas como tecnologia, arte, música eletrônica e a própria concepção do que seria música, visto que enquanto certos grupos buscam inserir seus gêneros dentro da noção corrente, outros fazem questão exatamente de romper com esse paradigma.


Por Rodrigo Baptista

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