“Não somos músicos, mas artistas de colagem”. A frase dita por um DJ em uma das cenas do documentário Modulations (1998) da diretora Iara Lee ilustra bem a relação entre música e arte apresentada pelas experimentações sonoras que muitas vezes não se encaixam na concepção tradicional de canção. O filme traz ainda outras reflexões importantes sobre o som na sociedade ocidental e pontos de vista diversos sobre o que vem a ser música eletrônica.
O documentário traça uma linha histórica na qual a obra experimental de nomes como Karlheinz Stockhausen e John Cage aparece como ancestral da música eletrônica e de diferentes expressões intimamente ligadas a uma cultura do DJ, no qual os sintetizadores e outros aparatos tecnológicos se tornam instrumentos e permitem a interferência através de técnicas como colagem, mixagem e scratch.
Apesar de referências similares, as apropriações de dispositivos tecnológicos variam de acordo com os grupos sócio-culturais e a necessidade dos mesmos em interferir na produção de sonoridades. É possível observar, por exemplo, a fundamental importância dos aparelhos sonoros no surgimento do Hip Hop nos Estados Unidos, da música eletrônica alemã e dos diversos sub-gêneros que pipocaram em cidades como Detroit e Chicago e as formas diversas como os jovens desses grupos se relacionam com a tecnologia, atualizam discursos e criam novas maneiras de interagir no espaço urbano. Os discursos, aliás, variam tanto dentro de uma mesma cena quanto na relação com as demais.
O título do filme parece apontar para uma tentativa de “modular”, ou seja, aproximar as discussões em torno de temas como tecnologia, arte, música eletrônica e a própria concepção do que seria música, visto que enquanto certos grupos buscam inserir seus gêneros dentro da noção corrente, outros fazem questão exatamente de romper com esse paradigma.
Nenhum comentário:
Postar um comentário