domingo, 29 de agosto de 2010

Um aparte literário para uma Paisagem Sonora do contexto da Revolução Industrial


No caso, o trecho é do livro "Germinal", do escritor francês Émile Zola, e retrata o drama dos trabalhadores das minas de carvão que trabalhavam para alimentar a indútrias movidas pela máquina à vapor.

"Lentamente, Estevão tornou à sala de recepção. Atordoava-o aquele esvoaçar gigante, por cima da cabeça. E, tiritando por causa das correntes de ar, olhou a manobra dos vagões. Ao pé do poço, funcionava o sinal, um pesado martelo de alavanca, que uma corda puxada debaixo fazia cair sobre uma bigorna. Uma pancada para cessar, duas para descer, três para subir; aquilo era feito ininterruptamente, como pancadas de clava dominando o tumulto, acompanhadas de um claro tilintar de campainha; enquanto o carregador, dirigindo a manobra, recrudescia ainda mais o barulho, gritando à um porta voz ordens para o maquinista. As gáveas, no meio daquela inferneira, apareciam e desapareciam, despejavam-se e tornavam-se a encher, sem que Estevão percebesse nada daqueles serviços complicados.

Não compreendia senão uma coisa: - o poço engulia os homens aos bocados de vinte e trinta, e com tão cômodas mastigadelas, que nem parecia sentí-los na garganta. A descida dos operário começava às quatro. Vinham da barraca, descalços, com as lanternas na mão, esperando em grupos, até completarem o número suficiente. Sem um rumor, como um salto de animal noturno, a gávea de ferro surgia do escuro e firmava-se nos trebelhos, com seus quatro andares contendo cada um dois vagões abaulados de carvão. Nos diferentes patamares, carregadores tiravam os vagões e substituíam-nos por outros vazios, ou já carregados de madeira para os cortes. E era nos vagões vazios que se empilhavam os operários, cinco a cinco, até quarenta de uma vez, quando tomavam todos os compartimentos. Um empregado gritava ao porta-voz, enquanto se puxava quatro vezes a corda do sinal de baixo, tocando a "carniça", para prevenir aquele carregamento de carne humana. Depois, com um breve solavanco, a gávea afundava-se, silenciosa, e caía como uma pedra, deixando apenas atrás de si a fuga vibrante do cabo. "

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